quarta-feira, 26 de maio de 2010

CINEMA: Espalhadas pelo Ar



Cora, uma mulher com cerca de trinta anos, observa, enquanto um grupinho de meninas adolescentes sobem as escadas rindo e falando alto. Ela olha, não em tom reprovador ou curioso, ela olha por saber exatamente como é se sentir assim, e, por se saber, naquele momento, tão distante daquilo.

Ela vive em um casamento que, se não é infeliz, tão pouco feliz é. Rotina, comodismo, necessidade, vai saber o que precisamos para não ver.

As adolescentes costumam fumar nas escadarias próximas ao apartamento dela. Fumam só de calcinha e sutiã, para não deixar cheiro na roupa, fumam escondidas, pois provavelmente os pais não aprovariam o hábito.

Certa vez, para poder ver um garoto na rua, a menina pede a ela que a deixe ver do seu apartamento. Lá, na janela, elas fumam juntas os cigarros que ficam escondidos no prato de plantas dela. “Seu marido não deixa você fumar?” pergunta a menina. “ele deixa, mas eu não gosto de fumar perto dele. Quando ele me conheceu eu já havia parado.”

Nessa mesma cena, elas falam sobre amor, sexo, intimidade. O filme conseguiu retratar o encontro de duas mulheres com idades, problemas, experiências e percursos diferentes, mas que se encontram em algum lugar do feminino. Duas mulheres, independente de qualquer coisa.

A menina namora o carinha, Cora se separa do marido. E, em uma belíssima cena, ela tira de uma caixa de presente um cinzeiro, e o coloca sobre a mesa da sala. Hora de colocar as coisas no lugar, colocando a si mesma no lugar novamente.

É um filme delicado, feminino, e Ana Carolina Lima, a Cora, consegue representar com maestria esse sentimento.

O filme é de Vera Egito, fruto de seu trabalho de conclusão de curso de Áudio Visual da USP-ECA. De 2007, Espalhadas pelo Ar, ganhou a presença certa em festivais e o carinho da crítica.

O filme pode ser visto no site: Porta Curtas Petrobrás.

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