sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Como treinar o seu dragão, de Cressida Cowell



Acabei, a poucos segundos, de ler Como treinar o seu Dragão, de Cressida Cowell. Eu sei que o fato do livro já ter virado filme mostra meu grau MÁXIMO de atraso com essa leitura, mas tudo bem, somos o que somos.
O livro conta a história de Soluço, um menininho viking, filho do chefe da tribo dos Hooligans Cabeludos, Estoíco - o imenso. Soluço estava destinado a ser o futuro herói e chefe da tribo, porém, ele NÃO se parecia com um herói, ele ATÉ tinha um cabelo de herói, mas o cabelo fica encoberto pelo capacete viking com dois chifres que ele SEMPRE usava. Então, sobrava apenas o fato de Soluço ser um menino fraquinho, que não sabia gritar e que não tinha a menor idéia de como virar um herói. Muito menos de como treinar um dragão, que era o que ele, junto com os outros sete calouros da tribo dos Hooligans Cabeludos teriam que fazer para passar no teste e entrar para a tribo, pois se FALHASSEM iriam para o exílio. E é essa a história de Soluço Spantosicus Strondus III, o nosso Soluço, que de fato se tornou um EXTRAORDINÁRIO herói viking, chefe guerreiro e naturalista amador, e que ficou conhecido como “o encantador de dragões”. Mas tudo isso foi DEPOIS, muito depois, por que a história que vocês irão ler (caso estejam TÃO atrasados como eu) é a história do menino Soluço, que teve que se tornar um herói da maneira mais DIFÍCIL.
Enfim, o livro é ÓTIMO, realmente vale a pensa ler, uma leitura leve, agradável e muito, muito inteligente e delicada. Cressida Cowell construiu uma história cheia de humor e ironia, que parece bobinha e infantil, quando na verdade ela toca em situações delicadas da vida, como a solidão de Soluço, a pressão de ter que corresponder com as expectativas do pai e de toda a tribo dos Hooligans Cabeludos e mais a dos Cabeça-Ocas, a necessidade de parecer corajoso e forte, quando você simplesmente sente medo. Coisas que se você tem mais de 18 anos já passou com certeza e ainda vai passar mais um pouco.
Realmente adorei o nome dos personagens e a forma como ela simplifica uma era bem distante, construindo em poucas palavras um mundo próprio para a existência de seus personagens. E essa é outra questão que me chamou muita atenção, a linguagem do livro é bastante direta, o que só reforça que para você fazer algo simples precisa saber muito bem fazer o complexo. Cowell tem o domínio absoluto das palavras e de como contar uma boa história, sua linguagem é leve e MUITÍSSIMO divertida. Vale muito a pena ler o livro, eu estou COMPLETAMENTE viciada e provavelmente vou acompanhar toda a saga de Soluço.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Você vai conhecer o homem dos seus sonhos



Segundo Shakespeare “a vida é uma história, contada por um idiota, cheia de som e fúria, que não significa nada”. É com essa idéia, totalmente confortadora, que Woody Allen inicia seu filme. A história gira em torno, basicamente, de quatro pessoas: Helena, a mãe, divorciada e solitária que procura nas revelações de uma vidente algo que a conforte. Sally, a filha, que sonha em ter filhos, mas os problemas financeiros e as dificuldades do marido, Roy, um escritor de um único sucesso, frustrado e derrotado ainda não permitiram. E por último, Alfie, o marido de Helena, que percebendo a finitude da própria vida, procura desesperadamente por algo que o torne ... isso mesmo, reticências. Ele procura. Ele se divorciou, ele praticou exercícios, ele fez bronzeamento artificial, ele se mudou, ele até casou com uma mulher linda e mais jovem, para? É isso que o nosso velho e querido Woody propõem. Qual o sentido das coisas que nos acontecem, das escolhas que tomamos e dos nossos sonhos que não se realizam? Nenhum.
Helena, Sally, Roy e Alfie são apenas pessoas, pessoas comuns, dessas que você encontra pela rua e as vezes até na frente do espelho, que esperam apenas que a vida lhes diga que o caminho que estão seguindo é o certo, que determinado acontecimento é a sua chance, que tudo vai ficar bem e que o futuro, sim, o futuro será bom. São pessoas que esperam por uma resposta que lhes diga que não estão completamente perdidas num mundo que gira 365 vezes em torno de si mesmo até que ele comece a dar voltas de novo.

sábado, 9 de abril de 2011

CINEMA: Cisne Negro




Infelizmente esse texto sai muito depois do que eu gostaria, por vários motivos, entre eles o fato de não ter conseguido ir antes a uma sala de cinema mais perto de mim. E depois que finalmente consegui assistir, fiquei refletindo durante séculos e séculos se ainda valeria a pena escrever algo quando muito já se falou e o fator Oscar já estava consumado. Mas lendo o que estava circulando, resolvi que sim, colocaria minha opinião na rede. E lá vai:

O filme é do diretor Darren Aronofsky que, antes de Cisne Negro, dirigiu “Pi”, “Réquiem para um sonho” e “O lutador”, não sei se exatamente nessa ordem. Não vi os outros filmes dele, mas pretendo, só para ter certeza de algumas coisas. Dizem por ai que ele gosta de explorar o lado psicológico dos filmes. Sei não, sei não.

Então Cisne Negro conta a história de Nina, uma bailarina que depois de muita dedicação e de abdicar da vida pessoal, recebe o papel principal do balé O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, interpretando a Rainha Cisne. O dilema de Nina surge quando o diretor do balé elogia sua atuação como cisne branco, porém, rejeita definitivamente sua interpretação do cisne negro, por não trazer a sensualidade e a intensidade necessária ao papel. Assim, a pobre Nina entra em uma espiral de conflitos internos, onde reavalia sua postura diante da vida, de sua sexualidade, da super proteção da mãe, entre outras coisas.

Ok. Até aí temos uma boa idéia. Realmente. Acho que o filme tinha muito potencial. Mas o roteiro deixou muito a desejar. Na minha opinião o texto não flui, não desenvolve. Principalmente nas falas do diretor do balé ao referir-se a sexualidade de Nina, forçado demais. E esse foi outro ponto que tinha potencial, mas foi mal explorado. “Vá pra casa e se masturbe”? Sério? Preguiça de pensar em algo mais elaborado?

Não, e esse papo de “suspense psicológico”? Nem sei onde está o problema. Primeiro porque quando se fala de suspense parte-se do pressuposto de que você pretende surpreender o espectador. E não é o que acontece, pois todo o conflito de Nina é revelado cena a cena, sempre evidenciando que as coisas não são reais. Ou seja, no inicio do filme você já entende o que está acontecendo com a atormentada bailarina.

Talvez o problema de Arnofsky seja o tempo em que ele produziu o filme, pois em 2011, não há lugar para o seu Cisne Negro. Não quando filmes como “O Clube da Luta” e “Cidade dos Sonhos” existem e mostram ao público possibilidades absurdas de tratar o tema, só para citar os que vieram primeiro a cabeça. Mas talvez o Cisne Negro tenha algo de suspense psicológico, mas em uma relação meta cinematográfica, onde o ponto de discussão passa a ser: o que acontece na mente de Arnofsky?

Pior que isso só a idéia, nada poética, da pobre Nina virando um cisne! Sério, existe algo chamado metáfora que já caiu no conhecimento popular! É sofrível as cenas em que ela tira a pena das costas, ou que sua pele ganha o tônus do bicho. O que me pareceu, para não dizer “simplista” e parecer vaga, é que faltou imaginação.

Pior que isso 2: Sim, ele recorre a idéia do duplo! Santo Deus! Acho que Borges deu um duplo mortal carpado na tumba!

Sinto muito, mas não gostei. E sinto muito de verdade, porque acho que o filme tinha potencial. A idéia do paralelo entre a história de Nina e a história do próprio Lago dos Cisnes é muito boa, possibilitaria mil possibilidades narrativas. Inclusive o caminho escolhido por ele é interessante, o conflito de forças antagônicas presentes no ser humano é algo universal, que todos enfrentamos.

Pronto falei!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

EX-BRAVEJANDO: Heterônimos

Quantas mairas habitam em mim?
Muitas desapareceram, outras se diluíram e formaram uma terceira, mas ainda assim são várias.
Eu quero todas, eu preciso de todas, seria mais fácil se fossem unas, se andassem em harmonia, se entendessem as prioridades do momento.
Mas não, elas se revelam cada vez mais selvagens, mais urgentes, querem a prioridade, querem existir como necessidade.
Talvez a última Maira precise ser a mediadora de todas as outras, para que elas não se matem, não se sufoquem, não se percam.
Mediar minhas necessidades, tá se tornando difícil, por que minhas urgências vieram a tona, preciso da vida como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes, como disse F. Pessoa.
Eu quero ser todas ao mesmo tempo, e as vezes tudo o que consigo é ficar parada olhando para todas elas, que gritam comigo exigindo suas necessidades satisfeitas.
Minha tarefa agora é fazer elas se entenderem, serem marinheiras de um mesmo navio.
Por que o destino é um só para todas.
Enquanto uma olha as estrelas, outra dirige o barco, outra limpa o convés, outra prepara a comida.
Minhas mairas precisam aprender a generosidade de ceder espaço para que o barco não afunde.
Só assim todas estão salvas.

FOTOGRAFIA: Jan Saudek



Jan Saudek, fotografo tcheco, nasceu em Praga em 1935.
As fotografias para alcançarem esse efeito envelhecido, porém gritante, são pintadas a mão pelo artista.
Em minha opinião criam uma atmosfera grotesca, porém delicada, que fala da vida, do homem e da natureza humana.

Vocês podem encontrar o trabalho de Saudek no site: www.saudek.com

Existe também um documentário, feito pelo amigo Adolf Zika, sobre sua vida e obra que pode ser facilmente encontrado na internet.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

CINEMA: Histórias de amor duram apenas 90 min.




É caríssimos, para nós que estamos em Belém, ainda não podemos ir ver o dito cujo daí de cima. Já sabendo de antemão que ele está nas salas de cinema desde o dia 12 de março. Mas estou verdadeiramente ansiosa. Embora exista a possibilidade kafkiana, porém não remota, do filme já ter vindo pra Belém, ficado uma semana e ter saído para todo o sempre. Sendo assim, preciso fazer um exercício interessante, falar sobre algo que não vi, o que lembra uma fala engraçada de algum filme que não sei o nome: “de tanto ouvi falar foi como se estivesse lá”. Então que assim seja, assim meio latina americana, sem dinheiro no banco, sem amigos importantes e vivendo no interior.

O filme fala sobre Zeca, um carinha de quase 30, que ainda não sabe o que fazer com a vida. Acredita ser escritor, mas nunca publicou, e está em uma crise criativa não passando da página 50 do livro. Vive com Júlia, uma mulher que muito ao contrário, além de saber o que quer, vai buscar onde estiver. O relacionamento está em crise, e Zeca começa a desconfiar que Júlia o esteja traindo, com sua aluna, Carol. O filme na verdade tece uma intimo diálogo com o livro Dom Casmurro de Machado de Assis, e o dilema da traição de Capitu – mas isso acaba sendo uma outra discussão, longa, profunda e por certo, mais interessante, que deixo para outra ocasião.

Já li muitas coisas sobre o filme, que vão desde “reflexão sobre a geração y” ao “complexo do crepúsculo do macho”. E acho que concordo com todas, mas confesso que a primeira me alarmou bastante, pois pasmem: tenho quase trinta! e ridiculamente me senti retratada pelo tal Zeca. E foi assim que descobri que pertenço a famigerada “geração y”, eu que quis fazer parte da geração de 60\70, lutando por uma causa, dedicando os anos dourados por uma nação. Nossa geração y, segundo Paulo Halm (diretor e roteirista), é composta de pessoas inteligentes e sensíveis, mas que ficam eternamente promissoras, incapazes de realizar seus sonhos e seus projetos. São escritores que não publicam, cineastas que não filmam, promessas que não se cumprem.
Renata Corrêa, no blog “vale ou não vale?” traz outra definição, seriamos uma geração que não eclode, implode ou explode.

Geração Y ou qualquer coisa que o valha, o que fica é levantar a questão dos nossos jovens trintões, que não tiveram que lutar contra a ditadura, não tocaram rock em Brasília, não viram a inflação comer seu dinheiro do mês, e encontraram uma moeda relativamente estabilizada. Por outro lado, uma geração que está cansada de ver os sessentões e oitentões lhes passando isso na cara. Em todo caso, assusta tanta ausência, desilusão e frustração, o que deu errado? Essa pergunta não para de me ocorrer. Jovens que são vésperas de si mesmo, nas palavras de Julio Cortázar, que vivem do que poderiam ser, ou ter sido, que vivem na espera, ao lado de fora da vida, e de si mesmos.

O que faz uma pessoa como o Zeca, jovem, saudável, inteligente (cá estou eu falando como uma sessentona!), ficar o dia todo dentro de casa, procurando um sentido para a vida fora dela, se alimentando de uma depressão que acabou virando identidade? A já citada Renata Corrêa definiu bem o dilema do filme: “A vida de Zeca, segundo Zeca e sem Zeca”. De qualquer forma, penso que este é um problema afinal de contas, que teremos que enfrentar, por que a alcunha de “geração perdida” já é muita maldade!
Talvez a resposta a essa crise existencial seja dada pelo pai do Zeca, interpretado por Daniel Dantas: “Senta a bunda na frente do computador e termina a porra desse livro”.

Eu, ao menos terminei a porra deste texto.

LITERATURA: De: Ernani Chaves, Para:Beneito Nunes



“O professor Benedito Nunes nos ensinou a gostar de filosofia, a gostar de literatura e a gostar de rir”.

Eu, posto isso, acreditando que essa deveria ser a função mor do educador, embora incluísse nesta lista a pobre história...:)

CINEMA: Espalhadas pelo Ar



Cora, uma mulher com cerca de trinta anos, observa, enquanto um grupinho de meninas adolescentes sobem as escadas rindo e falando alto. Ela olha, não em tom reprovador ou curioso, ela olha por saber exatamente como é se sentir assim, e, por se saber, naquele momento, tão distante daquilo.

Ela vive em um casamento que, se não é infeliz, tão pouco feliz é. Rotina, comodismo, necessidade, vai saber o que precisamos para não ver.

As adolescentes costumam fumar nas escadarias próximas ao apartamento dela. Fumam só de calcinha e sutiã, para não deixar cheiro na roupa, fumam escondidas, pois provavelmente os pais não aprovariam o hábito.

Certa vez, para poder ver um garoto na rua, a menina pede a ela que a deixe ver do seu apartamento. Lá, na janela, elas fumam juntas os cigarros que ficam escondidos no prato de plantas dela. “Seu marido não deixa você fumar?” pergunta a menina. “ele deixa, mas eu não gosto de fumar perto dele. Quando ele me conheceu eu já havia parado.”

Nessa mesma cena, elas falam sobre amor, sexo, intimidade. O filme conseguiu retratar o encontro de duas mulheres com idades, problemas, experiências e percursos diferentes, mas que se encontram em algum lugar do feminino. Duas mulheres, independente de qualquer coisa.

A menina namora o carinha, Cora se separa do marido. E, em uma belíssima cena, ela tira de uma caixa de presente um cinzeiro, e o coloca sobre a mesa da sala. Hora de colocar as coisas no lugar, colocando a si mesma no lugar novamente.

É um filme delicado, feminino, e Ana Carolina Lima, a Cora, consegue representar com maestria esse sentimento.

O filme é de Vera Egito, fruto de seu trabalho de conclusão de curso de Áudio Visual da USP-ECA. De 2007, Espalhadas pelo Ar, ganhou a presença certa em festivais e o carinho da crítica.

O filme pode ser visto no site: Porta Curtas Petrobrás.