quarta-feira, 26 de maio de 2010

CINEMA: Histórias de amor duram apenas 90 min.




É caríssimos, para nós que estamos em Belém, ainda não podemos ir ver o dito cujo daí de cima. Já sabendo de antemão que ele está nas salas de cinema desde o dia 12 de março. Mas estou verdadeiramente ansiosa. Embora exista a possibilidade kafkiana, porém não remota, do filme já ter vindo pra Belém, ficado uma semana e ter saído para todo o sempre. Sendo assim, preciso fazer um exercício interessante, falar sobre algo que não vi, o que lembra uma fala engraçada de algum filme que não sei o nome: “de tanto ouvi falar foi como se estivesse lá”. Então que assim seja, assim meio latina americana, sem dinheiro no banco, sem amigos importantes e vivendo no interior.

O filme fala sobre Zeca, um carinha de quase 30, que ainda não sabe o que fazer com a vida. Acredita ser escritor, mas nunca publicou, e está em uma crise criativa não passando da página 50 do livro. Vive com Júlia, uma mulher que muito ao contrário, além de saber o que quer, vai buscar onde estiver. O relacionamento está em crise, e Zeca começa a desconfiar que Júlia o esteja traindo, com sua aluna, Carol. O filme na verdade tece uma intimo diálogo com o livro Dom Casmurro de Machado de Assis, e o dilema da traição de Capitu – mas isso acaba sendo uma outra discussão, longa, profunda e por certo, mais interessante, que deixo para outra ocasião.

Já li muitas coisas sobre o filme, que vão desde “reflexão sobre a geração y” ao “complexo do crepúsculo do macho”. E acho que concordo com todas, mas confesso que a primeira me alarmou bastante, pois pasmem: tenho quase trinta! e ridiculamente me senti retratada pelo tal Zeca. E foi assim que descobri que pertenço a famigerada “geração y”, eu que quis fazer parte da geração de 60\70, lutando por uma causa, dedicando os anos dourados por uma nação. Nossa geração y, segundo Paulo Halm (diretor e roteirista), é composta de pessoas inteligentes e sensíveis, mas que ficam eternamente promissoras, incapazes de realizar seus sonhos e seus projetos. São escritores que não publicam, cineastas que não filmam, promessas que não se cumprem.
Renata Corrêa, no blog “vale ou não vale?” traz outra definição, seriamos uma geração que não eclode, implode ou explode.

Geração Y ou qualquer coisa que o valha, o que fica é levantar a questão dos nossos jovens trintões, que não tiveram que lutar contra a ditadura, não tocaram rock em Brasília, não viram a inflação comer seu dinheiro do mês, e encontraram uma moeda relativamente estabilizada. Por outro lado, uma geração que está cansada de ver os sessentões e oitentões lhes passando isso na cara. Em todo caso, assusta tanta ausência, desilusão e frustração, o que deu errado? Essa pergunta não para de me ocorrer. Jovens que são vésperas de si mesmo, nas palavras de Julio Cortázar, que vivem do que poderiam ser, ou ter sido, que vivem na espera, ao lado de fora da vida, e de si mesmos.

O que faz uma pessoa como o Zeca, jovem, saudável, inteligente (cá estou eu falando como uma sessentona!), ficar o dia todo dentro de casa, procurando um sentido para a vida fora dela, se alimentando de uma depressão que acabou virando identidade? A já citada Renata Corrêa definiu bem o dilema do filme: “A vida de Zeca, segundo Zeca e sem Zeca”. De qualquer forma, penso que este é um problema afinal de contas, que teremos que enfrentar, por que a alcunha de “geração perdida” já é muita maldade!
Talvez a resposta a essa crise existencial seja dada pelo pai do Zeca, interpretado por Daniel Dantas: “Senta a bunda na frente do computador e termina a porra desse livro”.

Eu, ao menos terminei a porra deste texto.

Um comentário:

  1. Adorei o teu texto. Não pode ser uma crítica, nem uma resenha, muito menos uma crônica. Talvez teu texto fique no limiar disso tudo e pra mim é isso que faz dele tão interessante. Obrigado pelas palavras e continue postando!

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